Chineses se comprometem a desacelerar emissões antes de 2030, e EUA querem cortar 26% do seu CO2 até 2025
Nos EUA, acordo não precisa ir ao Congresso, mas republicanos, agora com maioria também no Senado, já reclamam
Após meses de negociações sigilosas, China e EUA alcançaram um acordo sem precedentes para reduzir emissões de gases poluentes.
Tal feito deve energizar o esforço para concluir um acordo global sobre mudança climática em 2015.
O anúncio foi feito nesta quarta (12), na conclusão da visita à China do presidente americano, Barack Obama. Ao lado do líder chinês, Xi Jinping, Obama classificou o acordo como "histórico".
A China se comprometeu a atingir o ápice de suas emissões de CO2 no máximo até 2030, quando então elas deverão começar a cair. Para isso, o país pretende investir para que 20% de sua energia tenha origem em fontes não poluentes.
É a primeira vez que a China, país que mais polui no mundo, estabelece uma data para que suas emissões de CO2 parem de aumentar. Juntos, China e EUA são responsáveis por mais de 40% do dióxido de carbono emitido em escala global.
Os EUA, por sua vez, assumem o compromisso de reduzir as emissões em 2025 entre 26% e 28% em relação a 2005. A nova meta é mais ambiciosa que a estabelecida anteriormente por Obama, de um corte de 17% até 2020.
ACORDO GLOBAL
"Como as duas maiores economias e os maiores consumidores de energia e emissores de gases-estufa, temos uma responsabilidade especial de liderar o esforço global contra a mudança climática", disse Obama.
O anúncio permitiu um desfecho positivo para a visita de Obama à China, cercada por uma série de divergências e competição crescente entre as duas economias.
Ambos os líderes destacaram a importância do entendimento para encorajar outras grandes economias a chegar a um acordo ambicioso na 21ª COP (conferência mundial do clima) de Paris, em 2015 --antes disso, ocorre a 20ª COP, no Peru, no começo de dezembro deste ano, onde as bases desse acordo começarão a ser negociadas.
Xi Jinping disse explicitamente que o compromisso assumido pelos países serve para "assegurar que as negociações internacionais sobre as alterações climáticas irão chegar a um acordo".
No mês passado, a União Europeia também anunciou suas metas, comprometendo-se a reduzir em 40% as emissões até 2030, em relação a 1990. O bloco europeu é responsável por 11% das emissões mundiais de CO2.
Apesar do otimismo demonstrado por Xi e Obama, os dois líderes terão que vencer resistências domésticas para cumprir as metas.
Nos EUA, as recentes eleições legislativas deram o controle do Senado ao opositor Partido Republicano, que também aumentou sua maioria na Câmara.
O acordo não precisa passar por aprovação do Congresso, mas as críticas não tardaram. "Esse plano irrealista que o presidente empurrará para o seu sucessor vai garantir apenas impostos mais altos e menos emprego", atacou o líder republicano no Senado, Mitch McConnell.
A China tem obstáculos ainda maiores. Num momento de desaceleração, o governo tenta implementar reformas sem criar desemprego e instabilidade social.
Embora seja o país que mais investe em energias renováveis, a China ainda luta para diminuir sua forte dependência do carvão. Mais barato do que outras fontes de energia, ele gera 65% da eletricidade usada no país.
As metas anunciadas por Xi e Obama são importantes como um sinal de esforço conjunto, mas poderiam ser mais ambiciosos, diz Wang Tao, especialista em clima do Centro Carnegie-Tsinghua de Política Global.
"O compromisso com as metas é claro", afirmou à Folha. "O desafio é alinhar a preocupação de curto prazo com o crescimento econômico e a de longo prazo, que é preservar o meio ambiente." Folha, 13.11.2014.
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RAFAEL GARCIADE SÃO PAULO
Despertar dos gigantes ameaça protagonismo do Brasil na área
Se o pacto climático entre China e EUA tiver o efeito previsto, os dois países devem deixar de travar as negociações do almejado acordo global. Nesse cenário, reduzem-se as chances de o Brasil seguir protagonista na área.
Na última vez em que chefes de Estado se reuniram para tentar chegar a um acordo, em 2009, o Brasil estava em ritmo acelerado de redução do desmatamento (sua principal fonte de CO2) e prometia reduzir até 39% de seu CO2 projetado para 2020.
A promessa deixava o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva à vontade para cobrar ação de outras nações. Seu discurso foi aplaudido como poucos durante aquele encontro em Copenhague.
Agora, porém, o país está numa condição diferente.
Mesmo que honre a promessa, o Brasil corre o risco de chegar à cúpula de Paris, em 2015, com as emissões em curva ascendente. E enquanto chineses e americanos falam em objetivos para 2030, o Brasil dá sinais de que repetirá sua intenção para 2020.
Ainda que o pacto sino-americano seja mais uma carta de intenções que um acordo vinculante e ainda que ele seja insuficiente para evitar um aquecimento global de 2ºC, considerado perigoso, a proposta chinesa de atingir 20% de energia renovável até 2030 é muito ambiciosa.
Enquanto isso, o Brasil, que tem hoje respeitáveis 40% de sua matriz energética (incluindo indústria e transporte) calcada em fontes renováveis, sinaliza uma aceleração do consumo de combustíveis fósseis. E não há como almejar um corte de emissões tão significativo quanto o chinês cuidando apenas do problema do desmatamento. Folha, 13.11.2014.
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